Saúde pública volta a ser tema de debate na Câmara
Seis dias após ocupar a tribuna livre da Câmara e apontar uma série de falhas na saúde pública do município, o médico Vagner Trautwein retornou ao legislativo na noite de segunda-feira, 02, mas, desta vez, usou o grande expediente para se defender. O profissional, que é delegado em Canoinhas do Conselho Regional de Medicina (Cremesc), respondeu por quase vinte minutos às acusações feitas através de carta encaminhada pela secretária municipal de Saúde, Telma Regina Bley. O documento havia sido protocolado na Câmara cerca de duas horas antes do início da sessão.
A idéia inicial era a realização de um amplo debate entre o médico e o diretor administrativo do Hospital Santa Cruz (HSC), Derby Fontana Neto. Alegando compromissos anteriormente assumidos, o diretor do HSC não compareceu a sessão. Por meio de ofício encaminhado ao presidente em exercício da Casa, vereador Alexey Sachweh (PPS), Fontana se colocou à disposição para uma próxima data. O legislativo deve convocá-lo para a reunião da próxima segunda-feira, 09, para que possa esclarecer os motivos que levaram o hospital a afastar do quadro de especialistas do sobreaviso os médicos Vagner Trautwein e Ricardo Manteuffel.
Acusações
Durante sessão da Câmara, o 2º secretário da mesa diretora, vereador Wilson Pereira (PMDB) leu carta assinada pela secretária municipal de Saúde, Telma Regina Bley. Ela acusou o médico de usar o equipamento de videolaparoscopia, adquirido com recursos públicos em 2002, somente em cirurgias pagas ou nas quais os pacientes tinham plano privado de saúde. “O médico em questão informava para os pacientes que as cirurgias por videolaparoscopia não eram realizadas através do SUS, somente particular. Ai quem não tem condições de pagar, passava por cirurgia por `corte`”, dizia parte do texto assinado por Telma.
A secretária também afirmou que o médico induzia os pacientes a pagarem pelas cirurgias alegando que o procedimento através do SUS seria muito demorado. Tal fato, segundo ela, foi denunciado ao Ministério Público em 2009 e ganhou repercussão na imprensa local. Telma relatou que o médico é servidor municipal, faz parte do corpo clínico do HSC e está cadastrado junto ao Ministério da Saúde para realizar os procedimentos SUS. “Então foi um dos responsáveis em gerar fila de espera exorbitante para cirurgia geral, deixando pessoas passarem por fortes crises de dor”, comentou em outro trecho da carta.
Conforme afirmações da secretária, Trautwein possui problemas pessoais com outros médicos e abandonou o serviço de sobreaviso de especialidades do Pronto Atendimento Municipal e Hospital Santa Cruz. Fato esse, segundo ela, motivou a dispensa do médico dos serviços da Apoca. Telma também falou que o médico, por ser delegado do CRM, arquitetou a saída do oncologista Marcos Sussembach do município.
Sobre as falhas no PA, Telma disse que o médico foi infeliz ao criticar a terceirização dos serviços, de que nunca houve falso médico realizando consultas no local e que a hora plantão paga é a segunda maior do Sul do país. A secretária saiu em defesa do diretor técnico da Secretaria Municipal de Saúde, André Saliba e lembrou que o médico realiza exames de endoscopia por ser especialista em gastroenterologista. “Apresentou cursos na área, então não se pode dizer que ele não está preparado”, acrescentou.
Telma foi além e criticou as cirurgias de alta complexidade realizadas por Trautwein. Afirmou que o médico foi indiciado em inquéritos policiais que o acusavam como responsável por óbitos de pacientes que haviam feito cirurgias de gastroplastia (redução de estômago). “As pacientes realizaram as cirurgias no hospital de Major Vieira, sendo este de pequeno porte, sem banco de sangue e sem adensamento tecnológico para este tipo de procedimento”, completou.
Quando ocupou o cargo de secretário municipal de Saúde, por um período de 30 dias em 2007, Trautwein teria, segundo Telma, comprado excesso de óleo diesel com dinheiro “carimbado” do programa Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e também desviado todo combustível para outra secretaria. Ela finalizou a carta lembrando ainda que as acusações feitas pelo médico, na semana passada, na Câmara, nunca foram apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado e, muito menos, pelo Ministério Público.
Médico se defende
Estima-se que um público superior a cem pessoas compareceu à sessão da Câmara para acompanhar o pronunciamento do médico Wagner Trautwein. Aplausos e manifestações de apoio marcaram a presença do profissional que, ao ocupar a tribuna livre, rebateu todas as denúncias apresentadas pela secretária.
O profissional repudiou a acusação de que cobrava pelas cirurgias eletivas e disse que muitas das pessoas presentes no plenário haviam sido seus pacientes e atendidas pelo SUS. “Nunca pedi um tostão para atender pelo SUS”, frisou. Ele falou ter realizado tais procedimentos na saúde pública de Canoinhas entre os anos de 2000 a 2009.
Afirmou que se colocou à disposição da pasta de Saúde, quando ainda fazia parte do quadro médico da Policlínica Municipal, para realizar dez cirurgias mês no hospital através do SUS. A iniciativa, segundo ele, seria uma forma de diminuir as filas de espera pelos procedimentos, mas, não obteve respaldo.
Desde o credenciamento do Hospital Santa Cruz, no ano de 2009, o médico ressaltou que vem realizando através do SUS procedimentos de videolaroscopia (cirurgia por vídeo). “Jamais deixei de atender as pessoas pelo SUS. Realizo estes procedimentos também com pacientes particulares e deles sim eu cobro”, completou.
O médico também se defendeu da acusação de que teria sido o responsável pela morte de uma paciente em 2005. Lembrou que respondeu ao inquérito policial e que o Conselho Federal de Medicina abriu sindicância para apurar a denúncia. A falta de elementos que comprovassem sua culpa fez com que o processo fosse arquivado. “A paciente faleceu em casa, de embolia pulmonar, alguns dias após a cirurgia. Isso foi em 2005, porém, a denúncia só foi feita pela família em 2009. Estranhamente isso só ocorreu depois que eu já não era mais vereador. Nem tinha direito a voto nesta Câmara”, explicou.
Trautwein repudiou ainda as acusações de que estaria perseguindo médicos que atuam no município. Ele lembrou que foi duas vezes diretor clínico do HSC e com 43 votos a favor e apenas três contra foi eleito delegado do CRM em Canoinhas. “Difícil dizer que sou odiado pelos médicos se eles próprios votaram em mim”, disse.
O profissional informou ter denunciado à pasta de Saúde, no ano de 2010, a conduta de um especialista que estava no sobreaviso. Naquela oportunidade, o médico havia se recusado a prestar atendimento a um paciente de Indaial. “Ele alegou que não poderia realizar a cirurgia de emergência pelo fato do sobreaviso não estender o atendimento para pessoas com domicílio fora de Canoinhas”, falou. Mesmo podendo levar a denuncia ao CRM, Trautwein deixou a abertura de sindicância para a própria Secretaria Municipal de Saúde realizar. “Foi a própria secretaria que deu continuidade e fez os encaminhamentos necessários”, ressaltou o delegado do CRM local.
Outro ponto bastante combatido pelo médico foi a de que teria desviado combustível no período em que esteve a frente da Saúde. “Jamais assinei um cheque nos 30 dias em que fiquei como secretário. Pelo que sei, foi o ex-secretário de Administração Argos Burgardt quem assinou. E fez isso por engano, tenho certeza! Afinal, pelo que conheço dele sempre foi uma pessoa honesta e honrada. Além disso, esta situação logo foi resolvida”, esclareceu.